
Márcia realiza a primeira exposição individual no Mosteiro de Ancede, em Baião.

Entre a música e as artes visuais, Márcia construiu um percurso singular onde palavra, som e imagem se cruzam. Após participar no Poesia a Copo, em Baião, inaugurou no mesmo dia a sua primeira exposição individual de artes plásticas, dando a conhecer ao público uma nova faceta do seu trabalho.
Cantautora reconhecida por canções como A Insatisfação, Bom Destino ou A Pele que Há em Mim, Márcia formou-se, antes da música, em Pintura na Faculdade de Belas-Artes de Lisboa. Embora a sua carreira musical a tenha tornado um nome familiar do público, nunca abandonou o desenho, a pintura e a ilustração, práticas que já se revelaram, por exemplo, no livro As Estradas São para Ir.
Agora, o passo que faltava: a estreia numa exposição individual de artes plásticas. “É Preciso Espaço para Falhar” em que reúne obras de desenho, pintura, fotografia e instalação produzidas ao longo de 20 anos.
Estará patente no Mosteiro de Ancede – Centro Cultural, em Baião, de 29 de novembro de 2025 a 28 de fevereiro de 2026, revelando pela primeira vez ao público uma faceta até aqui guardada em silêncio. “O título parte de um desenho onde, um dia, sem grande preocupação, escrevi essa frase como uma conclusão do processo criativo. Tenho-me debruçado muito sobre a existência do erro e sobre a teimosia que é tentarmos evitá-lo a todo o custo ou esconde-lo” , explica a artista.
O erro como caminho criativo
A reflexão sobre o erro atravessa toda a exposição, assumindo-se como matéria-prima essencial do seu percurso. “As pessoas vão sempre ter falhas e é nas falhas, muitas vezes, que acabaremos por encontrar aquilo que nos resta de humanidade e, no entanto, apercebi-me que sempre lidei de forma muito dura com os meus próprios erros”, confessa.
Para si, o erro deixou de ser obstáculo e passou a ser caminho. “Errar é também descobrir, desbravar, caminhar livremente. Todo esse processo é libertador e temos de aprender a aceitar que a sua importância é muito maior para a nossa verdade ou realização pessoal, liberdade individual ou felicidade do que um resultado perfeito ou eficaz.”
Ao longo dos anos, Márcia foi arranjando ateliers para pintar e desenhar em liberdade, longe do olhar dos outros. Esses espaços, conta, tornaram-se verdadeiros refúgios, quase sagrados. “Apercebi-me que desenhava sobretudo os meus ateliers pois são os espaços seguros e acabam por ser quase sagrados – como se, protegidos do olhar do mundo, tivéssemos a capacidade de sermos mais próximos de nós próprios, confessionais e essenciais, como acontece num diálogo com Deus.”
O resultado é um conjunto de obras que podem parecer formalmente diversas, mas que se unem num fio narrativo em torno da procura. “Uma vez que é a minha primeira exposição individual, preparei um percurso que terá de ser explicativo para poder exibir trabalhos que podem parecer dispares, mas cujo fio condutor passará precisamente por entender a necessidade de um espaço em que me permiti experimentar várias coisas, falhar, desistir, insistir, corrigir. E sobre a procura da génese da pintura, da minha vontade de pintar e da insistência em permanecer tentando.”
Susana Ferrador



