Bairro do Aleixo no Porto “vive” em exposição que celebra 50 anos da associação

A exposição é organizada pela Associação de Promoção Social da População do Bairro do Aleixo e tem curadoria de Paulo Moreira.

Maio 30, 2025

A exposição “Aleixo: 5 Torres, 5 Décadas” apresenta a partir de sábado um retrato do antigo bairro, no Porto, pela perspetiva de 50 anos da associação, que quer manter viva a memória e identidade daquela comunidade.

A exposição é organizada pela Associação de Promoção Social da População do Bairro do Aleixo, em parceria com o Instituto, e tem curadoria de Paulo Moreira, que concebeu a mostra e juntou, a material de arquivo, fotografias de André Cepeda, David Gonçalves, Leonel de Castro, Nelson d”Aires e Paulo Pimenta, e trabalho também do investigador João Queirós.

“É [para] sinalizar a história. É muito importante, num processo tão traumático como este, de anular e demolir um pedaço da cidade onde viviam centenas de pessoas. Um possível contributo que trazemos é ajudar a consolidar uma memória coletiva sobre um lugar, que não se esqueça essa história, se assinale esse percurso. Foi algo que ficou um pouco por fazer”, diz à Lusa o curador, Paulo Moreira.

Segundo o arquiteto, da vida no bairro “pouco se falava”, por contraste aos problemas, “ao tráfico de droga, a todas as questões com que o bairro era conotado”.

“A exposição é muito sobre as pessoas que faziam o bairro e não tiveram muito papel nessa história. Aqui, de alguma forma, tentamos dar-lhes protagonismo”, acrescenta.

Patente até ao final do ano, na sede da associação, na Rua da Âncora, fica a mostra de um percurso coletivo, em “cinco painéis, com a mesma proporção das torres, e a mesma orientação, quase como uma miniatura do Bairro do Aleixo”, conta Paulo Moreira.

“As fotografias funcionam quase como janelas das torres, e as pessoas podem depois deambular pelo espaço. (…) O espaço tem um jardim grande e um dos painéis fotográficos terá cerca de sete por 2,5 metros, uma grande fotografia do Paulo Pimenta que vai servir de cenário para atividades” paralelas, explica.

Não é a primeira vez que a associação e Paulo Moreira se associam, depois de o arquiteto ter criado uma estrutura para a Bienal de Arquitetura de Veneza, com objetos de ex-moradores que lhes lembrassem do bairro.

Seguiu-se, em 2024, uma proposta bem acolhida pela autarquia para construir um elemento de sinalização histórica que assentasse na zona onde outrora se erguiam as torres, que darão lugar a um muito adiado projeto urbanístico — em Assembleia Municipal, na segunda-feira, foi votada favoravelmente a sexta alteração ao contrato com o fundo Invesurb, adiando por mais seis meses a sua concretização, e assim “empurrando” o assunto Aleixo para o novo executivo camarário.

É nesse contexto que nasceu uma oficina participativa, prevista para o último trimestre do ano, no programa Cultura em Expansão, para se criar, com ex-moradores, uma maquete do que virá a ser esse elemento escultórico.

A associação, que se levantou a partir da Comissão de Moradores, formada em 1975 por famílias recém-instaladas nas primeiras torres, atravessou um longo percurso, entre a vitalidade do bairro, a incerteza e degradação por que passou, e a contestação nos anos de demolição.

Nos últimos tempos, e Renato Sousa chegou à direção em 2013, tem-se dedicado às respostas sociais, nomeadamente o jardim de infância e o ATL, e a outros projetos educativos, como o Proinfância.

Hoje em dia, a associação, uma IPSS, quer ser “uma referência na economia social”, diz à Lusa o presidente, Renato Sousa, e “assegurar que tem mais 50 anos de vida” pela frente.

Em cima da mesa estão sonhos e projetos ambiciosos, o maior o CASULO — Centro de Ação Social de Lordelo do Ouro, depois de se inaugurar a creche, para já atrasada, mantendo a ligação aos antigos moradores, que procuram a associação para lá colocar os filhos e netos.

O licenciado em História, de 50 anos, chegou ao bairro para trabalhar nesta resposta educativa, em 1997, e desde então tem-se dedicado àquela comunidade e àquela zona, despojada das últimas famílias realojadas em 2019, altura da demolição das três primeiras torres.

O trabalho em várias escolas daquela zona do Porto enche-o de “orgulho”, assim como a presença de políticos da cidade, atuais, do passado, e a olhar para o futuro, para as eleições autárquicas deste ano, na inauguração de sábado.

Na discussão pública sobre o futuro daquela zona da cidade, em 2024, optaram por “tentar sensibilizar a Câmara do Porto” para “marcar a memória da comunidade que lá viveu”, e o conselho para candidatos autárquicos vai no mesmo caminho.

“A pior coisa que uma cidade pode fazer a si própria é obliterar o seu passado. “Aqui não existiu nada”. Não, existiu um bairro, uma comunidade, e achamos que essa memória se deve perpetuar”, analisa.

Ainda este ano, o Arquiteturas Film Festival, organizado pelo Instituto, dedicará ao Aleixo a secção especial portuguesa, com filmes de cineastas que filmaram o bairro e os seus, e a estreia de uma primeira versão de um documentário, a ser feito com o Instituto de Sociologia e o Museu da Pessoa, em torno da associação.

Constituído por cinco torres, de 13 pisos, o bairro do Aleixo foi inaugurado poucos dias antes do 25 de abril de 1974, tendo o então presidente da câmara Rui Rio decretado a sua demolição, após anos marcados pela forte conotação com o tráfico de droga e criminalidade associada.

A torre 5 foi demolida em 2011, seguindo-se a quarta, dois anos depois, no final do último mandato de Rui Rio, e o processo de desmontagem ficou concluído em 2019, com as últimas três torres, já sob a presidência de Rui Moreira.

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