Para a proposta alternativa da localização da estação de Gaia e menos traçado em túnel, o responsável frisou que “o grande chapéu disto tudo é a segurança”.

Um responsável do consórcio AVAN Norte, que vai construir o primeiro troço da linha de alta velocidade Porto-Lisboa, rejeitou hoje que questões financeiras estejam na base das propostas alternativas feitas face ao que estava previsto no contrato.
“Não. A questão financeira, não. Eu acho que, se calhar, não. Isso nunca se nos foi posto, a questão financeira”, disse aos jornalistas António Campos e Matos, projetista do consórcio AVAN Norte (Mota-Engil, Teixeira Duarte, Alves Ribeiro, Casais, Conduril e Gabriel Couto).
Em causa está o facto de o consórcio ter assinado, em 29 de julho, um contrato de concessão que prevê a estação de Gaia em Santo Ovídio, prevista desde 2022 e com ligação a duas linhas de metro, mas apresentado, em outubro, uma proposta para uma estação em Vilar do Paraíso e duas pontes separadas em vez de uma rodoferroviária sobre o Douro.
O traçado também foi alterado, tendo agora menos componente em túnel (6,3 quilómetros) do que estava previsto no Estudo Prévio (11,4), o que causa impactos à superfície, com 136 demolições previstas em Vila Nova de Gaia e no Porto, das quais 109 habitações e 27 empresas, contabilizou a Lusa.
Questionado pelos jornalistas, reiterou que a questão financeira “não” foi determinante, apesar de reconhecer que “os aspetos financeiros existem, como existem os de segurança e os ambientais, como existem outros”.
Para a proposta alternativa da localização da estação de Gaia e menos traçado em túnel, o responsável frisou que “o grande chapéu disto tudo é a segurança”.
“Segurança nestes casos é se houver um incêndio debaixo de um túnel ou numa estação a 60 metros, ou se houver um descarrilamento. E há, infelizmente. Como é que se tiram de lá 3.000 pessoas? Num metro tiram-se de lá 200 ou 200 pessoas. Estão a 20 metros da superfície. Nós estávamos a 60 metros da superfície com aquela estação e tínhamos que tirar 3.000. Esse é o problema de segurança número um”, justificou.
Quanto a menos traçado em túnel, o engenheiro considerou que o facto de se dividir um túnel de oito quilómetros “em vários bocadinhos – o maior tem três e meio – é excecional em termos de segurança”, pois em caso de acidente “pode-se sair por qualquer sítio”, não sendo necessário “estar a correr quilómetros e quilómetros”.
Já questionado sobre a questão jurídica de propor uma solução diferente à prevista no contrato assinado, e à possibilidade de outros concorrentes poderem não ter concorrido face às exigências do caderno de encargos, nomeadamente a ponte rodoferroviária e a estação subterrânea em Santo Ovídio, António Campos e Matos disse que outras empresas podiam ter concorrido.
“Ele [hipotético concorrente] podia concorrer, a estação não tinha que estar lá em baixo. Não pode é sair do corredor de 400 metros” de largura para o traçado, disse, e questionado sobre se era essa a interpretação do consórcio, o responsável confirmou, dizendo que a posição está “juridicamente suportada pelos juristas que o consórcio tem”.
Para o responsável, “o facto de a estação ser aqui ou acolá” tem “alguns aspetos jurídicos”, mas nunca “pareceu que estivesse escrito que fosse impossível”.
“É evidente que o Estado não pode, não tem gente, não tem tempo – principalmente não tem tempo – para estudar um projeto de execução. Isso foi dito pelo engenheiro Carlos Fernandes [vice-presidente da IP]. E, portanto, se nós queremos ter alta velocidade, tem que ser este modelo de lançamento em que o construtor faz os projetos, financia-se, por aí fora”, argumentou.
Segundo António Campos e Matos, só “há um corredor que é obrigatório” e “de qualquer maneira, tem sempre que se aprovar tudo na Agência Portuguesa do Ambiente”.
Quanto às demolições de casas, disse esperar que as pessoas afetadas “tenham uma casa nova”, mas até disse que “numa fábrica é pior”, pois ficam sem produção.
“Se fosse em cima da minha casa, eu ficava preocupadíssimo. Mas, de facto, não há hipótese de fazer, a não ser passar com um túnel de oito, neste caso, com 14 quilómetros, debaixo de tudo”, disse.
Garantiu que “tudo isso foi ponderado meses e meses”, tendo sido ponderado no “menos mau”.