Crise na comunicação social preocupa cardeal Américo Aguiar

O cardeal Américo Aguiar é cético perante a situação que encontra nos media em Portugal e vaticina que “a situação, como está, não vai sobreviver muito mais tempo”.

Fevereiro 2, 2024

Membro do Dicastério para a Comunicação da Santa Sé, Américo Aguiar é um observador atento ao setor da comunicação social, mostrando-se “muito preocupado” com a situação de crise instalada nalguns meios em Portugal.

“Olho [para a situação) com muita preocupação e já há muito tempo. Não me vou queixar de que não me ouvem, mas há muito tempo que digo que é preciso pararmos e refletirmos sobre a questão da sustentabilidade dos media em Portugal”, diz em entrevista à agência Lusa o homem que, até ao início de outubro de 2023, exerceu o cargo de presidente do Conselho de Gerência do Grupo Renascença Multimédia.

Américo Aguiar considera que, “em 50 anos de democracia, é um setor [o da comunicação social] que não tem merecido a melhor atenção e cuidado”.

“E não estou a falar de entidades reguladoras. Estou a falar daquilo que significa a sociedade, o poder político e os decisores”, afirma, questionando: “como é que nós garantimos uma comunicação social livre, saudável, sustentável e que ajude a fortalecer a democracia?”.

“Eu uma vez eu li que uma democracia é mais forte se tiver uma classe média robusta e uma comunicação social livre. E, portanto, se nós temos uma classe média coxa e uma comunicação social como temos vivido, não nos podemos queixar, porventura, da situação democrática, partidária e política que estamos a viver”, acrescenta.

O cardeal Américo Aguiar é cético perante a situação que encontra nos media em Portugal e vaticina que “a situação, como está, não vai sobreviver muito mais tempo”.

“Se nós temos media que vivem exclusivamente da publicidade, sempre que a publicidade baixa, esses media não têm receita. É complicado. Eu sei por experiência própria da Renascença como isso é difícil. E quanto maior o grupo e quanto maior a despesa, mais complicado”, reconhece, dirigindo, depois a sua “solidariedade total” aos trabalhadores e a “todos os administradores de todos os grupos, que se esforçam por fazer o melhor possível”.

Américo Aguiar defende que tem de haver “a maturidade suficiente para dizer que há um problema e assumir que há um problema: Como é que se garante a sustentabilidade dos media?”.

“Eu olho para outros países e existem soluções. Acho que é costume fazer um Livro Branco, não é? É preciso que meia dúzia de pessoas se sentem e reflitam”, sublinha, advogando que, no contexto atual, talvez fosse “oportuno pôr a refletir e a dizer o que é que acham os vários responsáveis partidários em relação a (…) este quadro da sustentabilidade urgente e necessária, indispensável para uma democracia do século XXI, que vai fazer 50 anos em breve”.

E a comunicação na própria Igreja Católica?

“Nós temos melhorado, infelizmente, com situações negativas, temos melhorado em razão disso, somos obrigados a melhorar em razão disso, as crises obrigam a melhorar e ainda bem”, afirma, defendendo: “temos de passar de andar atrás do prejuízo para termos agenda, porque, felizmente, a Igreja em Portugal tem possibilidade de marcar agenda com coisas tão positivas e tão boas e tão importantes, do que andarmos permanentemente [a dizer] que o senhor padre mordeu no cão”.

Para melhorar a situação, o cardeal é perentório ao apontar no caminho de uma abertura: “temos de ser capazes de captar profissionais competentes leigos, que nos ajudem à melhor comunicação possível da Igreja”.

Apesar deste panorama, destaca, em Portugal, o trabalho do Secretariado Nacional das Comunicações Sociais, da agência Ecclesia e de algumas dioceses com “músculo e capacidade”.

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