A “Loja dos Cromos” fica na Rua do Freixo, em Campanhã.
Uma loja com cerca de 15 metros quadrados, no Porto, criada durante a pandemia da covid-19, vende cromos para os cinco continentes e, segundo o dono, salvou-lhe a vida após ter sofrido um Acidente Vascular Cerebral (AVC) em 2022.
Tal como a maioria das crianças portuguesas, Tiago Pacheco, de 35 anos, cresceu a fazer coleções de cromos, mas foi só em 2014, quando começou a acompanhar o sogro, também ele colecionista, nas feiras de velharias e colecionismo, que começou o negócio, abandonando a sua primeira opção de venda de miniaturas de automóveis.
Seis anos volvidos, deixar o emprego que tinha durante a pandemia da covid-19 tornou-se na oportunidade que buscava e em 17 de setembro de 2020 abriu a sua “Loja dos Cromos”, na Rua do Freixo, em Campanhã, a primeira e, até hoje, única no Porto, contou à Lusa.
Atualmente, dedica 16 horas por dia ao negócio, complementado ao fim de semana com venda em banca em Espinho, Póvoa de Varzim, Castelo da Maia e Lourosa, pois “só assim é possível continuar, já que uma coisa cobre a outra e ajuda a pagar as despesas”, revelou.
Na cidade onde durante anos, ao fim de semana, a Praça da Batalha, Praça D. João I e o Largo da Sé, se tornaram referências para “acabar a caderneta” dos jovens e dos menos jovens colecionistas, Tiago começou a receber “pedidos de cromos de todo o país”, correspondendo-se por via postal, à média de “30 e 40 cartas por dia”.
Hoje em dia, assinalou, é através do Facebook e do WhatsApp que os pedidos lhe chegam, acreditando “ser a confiança, o dar a cara, que o faz ter tantos clientes” a quem faz chegar, também “através do ebay, as encomendas que chegam dos cinco continentes”.
E com as coleções ligadas aos clubes e seleções de futebol a continuarem a ser as mais procuradas pelos seus clientes, hoje em dia, revelou, há outras peculiaridades a que é preciso dar resposta, por exemplo, aos que querem comprar a “coleção completa, mas não com os cromos colados”.
“Quando se vende uma coleção completa os cromos vão à parte, na saqueta. O gozo do colecionador está em colar os cromos” e depois “há aqueles exigentes, que reclamam se o cromo estiver com a imagem descentrada”, contou a sorrir, numa conversa entre cromos, cartas e cadernetas e o computador aberto na página da loja no Facebook.
Segundo Tiago, a moda agora é adquirir o primeiro cromo de sempre de um futebolista numa coleção. O “rookie” (novato em português) que os colecionadores guardam em carteiras de plástico sendo atualmente, em Portugal, os mais procurados os do avançado sueco do Sporting, Gyokeres, e do médio adolescente do FC Porto, Rodrigo Mora.
A dedicação aos cromos, acredita Tiago, não só lhe traz compensação financeira como, inclusive, “pesou muito na recuperação do AVC sofrido em 21 de junho de 2022”, que obrigou a que a loja tivesse de estar fechada até 02 de novembro.
“Foram os cromos que me salvaram. O meu AVC foi no tronco cerebral. Estive 11 dias em coma induzido e, conta todas as opiniões médicas, recuperei”, descreveu.
Seguiu-se a fisioterapia e, em três semanas, recuperou o que estava previsto acontecer em três meses no Centro de Reabilitação do Norte”.
“Os médicos concordaram comigo que foram os cromos a salvar-me a vida, pois ainda no hospital eu perguntava à minha esposa sobre as coleções que estavam para sair e, para poder dar mobilidade aos braços, pedi-lhe para trazer cromos ainda nas saquetas e comecei a organizá-los para venda, como fazia na loja”, acrescentou.
E prosseguiu: “além disso, a minha cabeça estava sempre ocupada com os números dos cromos, as células do meu cérebro não desaprenderam”.
Com 10 mil seguidores no Facebook e cinco mil no Instagram, sendo muitos no estrangeiro, disse, na Loja dos Cromos estão expostas coleções do Minecraft, Harry Potter, Dragon Ball, entre outras, mas nada tanto como do futebol.
“O meu cliente mais velho tem 86 anos e é do Algarve”, coleciona cromos de futebol, banda desenhada e animais, revelou à Lusa.