Robert de Niro vai receber a Palma de Honra em Cannes.
O Festival de Cinema de Cannes, que começa hoje, tem filmes portugueses em competição e deverá ficar marcado pela atualidade geopolítica, da Ucrânia e de Gaza, e pela ameaça de tarifas de Trump na produção cinematográfica.
A abertura oficial da 78.ª edição é com “Partir un Jour”, primeira longa-metragem da realizadora francesa Amélie Bonnin, mas o festival também vai exibir hoje três documentários dedicados à Ucrânia, para lembrar “o empenho de artistas, autores e jornalistas em contar a história deste conflito no coração da Europa, que afeta o povo ucraniano e o mundo há três anos”.
Este ano, o tapete vermelho é estendido a estrelas como Robert de Niro, que vai receber hoje uma Palma d”Ouro de carreira, a Tom Cruise que estará em Cannes por causa do mais recente filme “Missão Impossível”, ou a Quentin Tarantino, convidado para uma “masterclass” de cinefilia sobre “westerns”.
A presença portuguesa no festival passa pela competição oficial de curtas-metragens, com “A Solidão dos Lagartos”, de Inês Nunes, e “Arguments in Favor of Love”, de Gabriel Abrantes, a disputarem a Palma de Ouro, o prémio que em 2009 distinguiu João Salaviza com “Arena”.
Oito anos depois de ter apresentado em Cannes o filme “A Fábrica de Nada”, o realizador Pedro Pinho volta ao festival — na secção “Un Certain Regard” – com “O Riso e a Faca”, segunda longa-metragem de ficção, com mais de três horas e rodada em África.
O filme segue a história de Sérgio, um engenheiro ambiental português que vai trabalhar numa organização não-governamental em África sobre o projeto de uma estrada a construir entre o deserto e a selva. O filme conta com as interpretações de Sérgio Coragem, Cleo Diára e Jonathan Guilherme.
Também na secção “Un Certain Regard” figura a ficção “Era uma vez em Gaza”, dos irmãos palestinianos Arab e Tarzan Nasser, que conta com coprodução da portuguesa Ukbar Filmes.
“O Pássaro de Dentro”, “curta” de animação de Laura Anahory, está na secção Cinef, dedicada a filmes feitos em contexto escolar, e no programa ACID Cannes, paralelo ao festival, estreia-se “Entroncamento”, de Pedro Cabeleira.
Da programação anunciada pelo festival de Cannes faz ainda parte o filme “Magalhães”, do realizador filipino Lav Diaz, coproduzido pela portuguesa Rosa Filmes, que teve filmagens em Portugal e em Espanha.
“Magalhães” é protagonizado pelo ator mexicano Gael García Bernal no papel do navegador português Fernão de Magalhães (1480-1521), que encetou a viagem de circum-navegação e morreu nas Filipinas.
Na cobiçada competição oficial de longas-metragens de Cannes estão, entre outros, os filmes “Un Simple Accident”, de Jafar Panahi, “O Esquema Fenício”, de Wes Anderson, “The Mastermind”, de Kelly Reichardt, “Two Prosecutors”, de Sergei Loznitsa, “Nouvelle Vague”, de Richard Linklater, “Die, My Love”, de Lynne Ramsay, e “Jeunes Mères”, dos irmãos Jean-Pierre e Luc Dardenne.
“O Agente Secreto”, do brasileiro de Kleber Mendonça Filho, com Wagner Moura e a atriz portuguesa Isabél Zuaa, também disputa a Palma de Ouro.
Fora de competição, Cannes vai acolher os filmes “La Disparition de Josef Mengele”, de Kirill Serebrennikov, e “Stories of Surrender”, de Bono, dos U2.
O júri deste ano da competição oficial é presidido pela atriz Juliette Binoche. A Palma de Ouro da competição de curtas-metragens será anunciada no dia 24 pelo júri presidido por Maren Ade. Os prémios da seleção Cinef, com o mesmo júri, serão conhecidos no dia 22.
O “Mercado do Filme”, uma área em Cannes virada para a indústria, tem este ano o Brasil como país convidado, sendo que dois projetos com coprodução portuguesa vão ser apresentados neste contexto.
Um deles é o do filme “Maria, a rainha louca”, de Elza Cataldo, rodado no Brasil, que está em pós-produção e que é protagonizado por Maria de Medeiros.
De acordo com a produção, o propõe “uma revisão sensível e potente” d? estigma de “loucura” que a História impôs a D. Maria I (1734-1816), “iluminando a sua importância política e dimensão humana, muitas vezes ignoradas”.
O outro projeto é o da longa-metragem de animação “Ana en passant”, da realizadora brasileira Fernanda Salgado e que conta com coprodução portuguesa pela Sardinha em Lata.
Cannes é considerado um dos mais importantes palcos do circuito internacional da indústria cinematográfica e não deverá ficar alheio à discussão sobre a hipotética imposição de taxas, anunciada na semana passada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, para proteger a produção norte-americana.
Donald Trump anunciou na rede social Thruth Social que iria iniciar “imediatamente o processo de instauração de tarifas de 100%” sobre os filmes exibidos nos Estados Unidos, mas produzidos no estrangeiro.
“A indústria cinematográfica norte-americana está a morrer muito rapidamente […]. Hollywood e muitas outras partes dos Estados Unidos estão devastadas. […] Outros países estão a oferecer todo o tipo de incentivos para atrair os nossos cineastas e estúdios para longe dos Estados Unidos”, escreveu Trump a 04 de maio.
Um dia depois a Casa Branca esclareceu que não estavam ainda tomadas “decisões definitivas relativamente às tarifas sobre filmes estrangeiros”, mas que procuravam um consenso enquadrado nas orientações do presidente.
O 78.º Festival de Cinema de Cannes termina no dia 24.